Você sabe o que é Pacto Ficcional e como ele pode potencializar a aprendizagem?
- Ray Reis
- 12 de mai. de 2020
- 4 min de leitura
Dando continuidade aos nossos posts mensais, hoje iremos falar sobre o Pacto Ficcional, uma ferramenta da literatura muito rica para aprendizagem!
O pacto ficcional é um tipo de relação que se estabelece entre o leitor e o texto, quando este é fictício. Ou seja, trata-se do “acordo” estabelecido entre quem lê e o texto, onde não se questiona os aspectos fantasiosos de uma obra. Sabemos que a imaginação é algo que faz parte da vida de qualquer pessoa, no entanto, na infância o potencial desse imaginário é ainda mais elevado, e os pequenos(as) não sentem dificuldade em estabelecer esse pacto silencioso.
Na interação com as histórias fantásticas, com os contos de fadas, com o folclore, com as lendas e com tantas outras obras literárias que instigam o imaginário, as crianças soltam as asas da imaginação e tem a oportunidade de conhecer as diferentes culturas, os diversos papéis sociais, tendo ainda a oportunidade de se relacionar com a língua escrita, ampliando seu vocabulário e conhecendo frases e expressões que podem não ser muito utilizadas em seu cotidiano.
Somente por estes fatores, permitir que a criança tenha contato com o mundo imaginário, mediado e potencializado pela literatura e pelo pacto ficcional, já estariam justificados. No entanto, incentivar a imaginação traz também outro benefício bastante significativo: amplificar a capacidade cerebral de fazer conexões neurais!
Isso mesmo! E quem nos explica isso é a neurociência, por meio do que é chamado de Teoria da Síntese Mental (VYSHEDSKIY, 2016). Essa teoria propõe que, como uma marionete manipulando as cordas, os neurônios do córtex pré-frontal- parte do cérebro responsável por todas as atividades complexas do corpo humano- mandam sinais elétricos através das fibras neuronais, para várias conexões de outros locais do cérebro, formando imagens compostas, e dando vida à imaginação, a partir dos vários elementos que são armazenados pelo cérebro ao longo do seu desenvolvimento e das suas experiências sensoriais de experimentação do mundo.
É na infância, enquanto o cérebro está se desenvolvendo de maneira mais rápida, que se encontra a maior oportunidade de tornar essa rede neural- que seria como uma grande teia de aranha, cheia de fios, que se interligam entre todos os espaços do nosso sistema nervoso central- mais rápida e mais complexa. E o estímulo da imaginação, faz com que as camadas de mielina- substância gordurosa que envolve as fibras neuronais, e que é responsável pela condução dos sinais elétricos ao longo dessas fibras- se tornem mais grossas, o que torna a condução das informações mais rápida.
A lógica é simples: quanto mais camadas de mielina as fibras neurais possuírem, mais rápido irão transmitir as informações para a rede neural, e mais conexões diversificadas o cérebro irá fazer, potencializando o processo de aprendizagem. Já que grande parte da mielinização acontece na infância, desde a mais tenra idade, uma imaginação energética pode ter muita influência na construção do nosso cérebro, cujas cuidadosas conexões mielinizadas podem construir sinfonias criativas por toda a nossa vida!
Por tudo isso, usar o pacto ficcional- que é facilmente aceito pelas crianças, principalmente da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental- em outras atividades, para além da leitura de obras literárias, pode ser uma ferramenta poderosa para potencializar a aprendizagem dos mais diversos conteúdos.
Na escola, a criação de contextos narrativos fantásticos, e o uso das ferramentas da imaginação, podem tornar os conteúdos mais prazerosos e de fácil assimilação para as crianças, o que contribuirá para a apropriação significativa das temáticas, e ainda potencializará o desenvolvimento cerebral.
Imagina aprender sobre a hidrografia brasileira por meio de uma viagem de barco desvendando rios e mares, enquanto busca encontrar um tesouro escondido pelos indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil? Ou a origem dos fenômenos naturais como o dia e a noite, por meio das lendas indígenas que explicam esse fato? Ou ainda, entender como existem os antibióticos, que curam as dores de garganta, por meio de uma viagem no tempo ao laboratório de Pasteur?
Solte a imaginação e seja criativo! É importante salientar que não são necessários o uso de muitos recursos materiais, o imaginário será a sua maior ferramenta! Um convite lúdico à brincadeira e uma ambientação simples, são capazes de transportar os(as) pequenos(as) para lugares incríveis.
Imaginar é fundamental ao longo da infância, e é algo que precisa ser incentivado diariamente pelo adulto. Portanto, valorizar a imaginação e a curiosidade abrindo espaço para que as crianças se manifestem, é um dos mais eficazes modos de favorecer os processos de aprendizagem e de potencializar o desenvolvimento infantil! Basta refletir: se não fosse a imaginação e a curiosidade humana, as ciências e a tecnologia não teriam se desenvolvido e alcançado os avanços que vemos hoje.
Referências
CORRÊA, Hércules Tolêdo. Pacto Ficcional. Glossário Ceale- termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. BH: Ceale/FaE/UFMG. Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/pacto-ficcional Acessado em: 27 de abr de 2020.
LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO-Toda criança pode aprender. Imaginar Educa: qual a importância da imaginação ao longo da infância. 1 de out de 2018. Disponível em: https://labedu.org.br/imaginar-educa-qual-importancia-da-imaginacao-ao-longo-da-infancia/ Acessado em: 27 de abr de 2020.
VYSHEDSKIY, Andrey. The Neuroscience of imagination. TED-Ed, 2016. 1 video (4,48 minutos). Disponível em: https://youtu.be/e7uXAlXdTe4 Acessado em: 27 de abr de 2020.
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